Um Memorando de Entendimento entre os dois países abre espaço para investimentos bilaterais, transferência de tecnologia e co-produção em setores estratégicos da indústria de defesa.
Segundo o The Korea Times, o Memorando de Entendimento (MoU) firmado nesta quarta-feira entre o Ministério da Defesa do Brasil e a Defense Acquisition Program Administration (DAPA), da Coreia do Sul, representa muito mais do que uma aproximação institucional entre dois governos. Trata-se de um movimento que recoloca o Brasil no radar das potências industriais asiáticas como parceiro tecnológico relevante, capaz de integrar cadeias globais de valor em defesa, aeroespacial e sistemas avançados.
A assinatura do acordo ocorre em um contexto de reconfiguração das cadeias produtivas internacionais, no qual países com capacidade industrial diversificada e relativa estabilidade política — como o Brasil — tornam-se parceiros estratégicos para nações que buscam reduzir dependência de fornecedores concentrados no eixo EUA–Europa. A Coreia do Sul, que transformou seu parque industrial de defesa em um dos mais avançados do mundo, é exemplo de como políticas integradas de financiamento, inovação e exportação podem gerar poder geopolítico. O Brasil, por sua vez, enxerga na parceria uma oportunidade concreta de atrair investimentos coreanos e ampliar a competitividade de sua própria BIDS.
No centro da cooperação está a Embraer Defense & Security, cuja aeronave C-390 Millennium foi recentemente selecionada pela Força Aérea da Coreia. Mas o escopo do MoU vai muito além da aviação: inclui setores como veículos terrestres, sistemas navais, mísseis, espaço e cibernética. A perspectiva é que as duas nações avancem para acordos de co-desenvolvimento e produção compartilhada, replicando modelos que a Coreia já adota com parceiros europeus e que combinam P&D conjunto, intercâmbio de engenheiros e integração industrial.
Do ponto de vista financeiro, o acordo sinaliza novas oportunidades para a criação de instrumentos binacionais de crédito e investimento, que poderiam ser lastreados em bancos de desenvolvimento — como o BNDES, do lado brasileiro, e o Korea Eximbank, do lado coreano. Essa estrutura permitiria não apenas financiar exportações de produtos de defesa, mas também apoiar joint-ventures, centros tecnológicos e capacitação de fornecedores. A interseção entre finanças e defesa tende a se tornar o vetor mais estratégico da cooperação, e abre caminho para a participação de fundos privados e soberanos em projetos industriais conjuntos.
Além disso, o Brasil pode aproveitar o momento para propor mecanismos de offset tecnológico que fortaleçam o ecossistema da BIDS. A internalização de competências coreanas em eletrônica embarcada, materiais compostos, sistemas de guiagem e inteligência artificial aplicada à defesa teria efeito multiplicador sobre pequenas e médias empresas do setor, que carecem de capital paciente e acesso a mercados internacionais. Nesse sentido, o acordo pode ser o embrião de uma nova arquitetura de financiamento industrial da defesa, conectando empresas, bancos e governos sob um mesmo propósito: gerar autonomia e escala.
Mais do que um gesto diplomático, a parceria Brasil–Coreia do Sul marca o início de uma nova fase de industrialização defensiva baseada em inovação e integração global. Se bem estruturado, o acordo pode reposicionar o Brasil não apenas como comprador de tecnologia, mas como coprodutor de sistemas estratégicos de alto valor agregado — e, portanto, como protagonista de uma economia de defesa verdadeiramente moderna e internacionalizada.
🔍 Implicações práticas para empresas da BIDS
Para as empresas da Base Industrial de Defesa e Segurança (BIDS), o acordo Brasil–Coreia do Sul abre três frentes imediatas de oportunidade.
Primeiro, no campo da cooperação tecnológica, há espaço para acordos de transferência de know-how e desenvolvimento conjunto de componentes críticos — especialmente em áreas como sensores, eletrônica embarcada, motores e software de missão. A experiência coreana em integração de sistemas e produção modular pode acelerar a maturidade tecnológica de empresas brasileiras, reduzindo custos e ampliando competitividade internacional.
Segundo, há a perspectiva de novos instrumentos financeiros. O uso combinado de linhas do BNDES, do Korea Eximbank e de fundos soberanos asiáticos poderá permitir o surgimento de mecanismos de crédito direcionado à defesa, estruturados sobre bases comerciais e de longo prazo. Esse arranjo, se operacionalizado, pode facilitar exportações de PRODE e PED brasileiros, criando um verdadeiro “canal financeiro” para o setor.
Por fim, a parceria abre oportunidades de inserção em cadeias globais. A Coreia do Sul opera com uma lógica de cooperação industrial que valoriza fornecedores estrangeiros de alto desempenho. As empresas da BIDS que se prepararem desde já — certificações, governança, conformidade e inovação — poderão se tornar fornecedoras qualificadas para programas conjuntos.
Em resumo …
O Ministério da Defesa, na pessoa de seu Secretário de Produtos de Defesa, Ten Brig Ar Heraldo Luiz Rodrigues, alcançou um marco deveras importante. Por certo, o MoU entre Brasil e Coreia do Sul pode ser lembrado, no futuro, como o início de uma nova era de integração financeira e industrial no setor de defesa brasileiro. Se transformado em política de Estado, e não apenas de governo, esse acordo pode consolidar o Brasil como polo hemisférico de inovação e coprodução estratégica — um passo essencial para transformar potencial em poder.
Descubra mais sobre InvestDefesa.org
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.
