Em julho de 2025, durante um exercício naval dos EUA na costa da Califórnia, um teste que deveria demonstrar a vanguarda da autonomia naval transformou-se em alerta vermelho. Dois drones navais colidiram em plena demonstração, um deles chegando a saltar sobre o convés do outro antes de cair novamente ao mar. O incidente, registrado em vídeo e revelado pela Reuters, expôs fragilidades tanto de software quanto de integração operacional.
Poucas semanas antes, outro episódio havia colocado em risco vidas humanas: uma embarcação de apoio da Marinha americana virou após um drone autônomo acelerar subitamente durante um reboque. O capitão foi lançado ao mar e, felizmente, resgatado com vida e sem necessidade de maiores cuidados médicos, segundo informa o site The Straits Times.
Esses eventos, aparentemente isolados, ganharam peso por envolver dois protagonistas da corrida tecnológica naval: Saronic e BlackSea Technologies, startups bilionárias que disputam contratos em programas estratégicos do Pentágono. Os acidentes evidenciam os limites da autonomia plena em cenários complexos, em contraste com a eficácia dos drones navais ucranianos – mais simples, baratos (cerca de US$ 250 mil por unidade) e controlados remotamente – que têm colocado em xeque a Frota do Mar Negro da Rússia.
Entre ambição tecnológica e desafios práticos
Enquanto a Ucrânia aposta em soluções pragmáticas de baixo custo e controle humano, os EUA buscam desenvolver frotas inteiramente autônomas, capazes de operar em enxames, sem comando humano direto. O custo, porém, é alto: alguns milhões de dólares por embarcação. Além disso, falhas em software, incidentes operacionais e até problemas de gestão institucional atrasam o avanço.
O Replicator Program, lançado em 2023 com orçamento de US$ 1 bilhão, visa prover milhares de drones aéreos e marítimos às Forças Armadas americanas. No entanto, o programa enfrenta turbulência: suspensão de contratos (como o da L3Harris), questionamentos internos sobre custo-benefício e até a demissão de líderes-chave, como o Contra-Almirante Kevin Smith.
A análise de especialistas como Bryan Clark (Hudson Institute) e T.X. Hammes (Atlantic Council) converge em um ponto: a transição da Marinha americana para sistemas autônomos não tripulados está ocorrendo em velocidade incompatível com a cultura institucional naval, acostumada a ciclos longos e embarcações de grande porte. O risco é perder tempo e credibilidade em meio a disputas geopolíticas crescentes no Indo-Pacífico.
O paralelo brasileiro: o VSNT-SUPPRESSOR da TideWise/EMGEPRON
Se os incidentes americanos ilustram os dilemas da autonomia plena, o Brasil ensaia uma abordagem distinta, ainda em estágio inicial, mas alinhada com sua realidade estratégica.
O Veículo de Superfície Não Tripulado (VSNT) – SUPPRESSOR, desenvolvido em parceria pela startup TideWise e pela estatal EMGEPRON, é um drone naval multipropósito projetado para missões de vigilância, patrulha, reconhecimento e apoio logístico. Diferentemente da ambição americana de operar em enxames autônomos, o projeto brasileiro prioriza robustez, versatilidade e integração gradual com as Forças Armadas.
O SUPPRESSOR foi concebido com foco em operações de baixo custo, dotado de controle remoto com graus de autonomia progressiva. Poderá ser empregado em tarefas como monitoramento de áreas marítimas sensíveis (pré-sal, Amazônia Azul), apoio a operações de busca e salvamento, ou até mesmo em cenários de defesa costeira, dependendo da carga útil embarcada (sensores, radares, câmeras eletro-ópticas e eventualmente sistemas de armas).
Esse modelo aproxima-se mais da experiência ucraniana do que da norte-americana, adotando o pragmatismo como diferencial competitivo. Além disso, ao ser fruto de parceria startup–empresa estatal, demonstra que o Brasil pode articular inovação ágil e estrutura institucional sem depender exclusivamente de programas bilionários ou de fornecedores externos.
Lições estratégicas para o Brasil
Os casos relatados pela Reuters e o paralelo com o SUPPRESSOR revelam algumas lições importantes para a Base Industrial de Defesa e Segurança (BIDS) brasileira:
- Autonomia progressiva e interoperabilidade parecem ser mais realistas para países em desenvolvimento do que projetos de autonomia plena. No entanto, a integração entre software nacional e sistemas importados é um desafio crucial.
- Custos acessíveis e modularidade podem garantir competitividade internacional. Enquanto os EUA investem milhões em cada embarcação autônoma, soluções como o SUPPRESSOR podem encontrar nichos de exportação em mercados emergentes e parceiros estratégicos da América Latina, África e Ásia.
- Governança e continuidade institucional são tão relevantes quanto a tecnologia em si. O Brasil precisa evitar rupturas políticas ou administrativas que comprometam a maturação de projetos estratégicos.
- Integração com programas de financiamento e inovação – aqui entra a importância de mecanismostradicionais e inovadores, além de fundos específicos para a BIDS – eles podem acelerar o ciclo de desenvolvimento e reduzir dependências externas.
Em resumo?
Enquanto os EUA enfrentam tropeços caros em sua corrida por supremacia naval autônoma, o Brasil tem a oportunidade de avançar por meio de soluções pragmáticas, escaláveis e financeiramente sustentáveis, como o VSNT-SUPPRESSOR.
Se a autonomia plena ainda se mostra um horizonte distante, a capacidade de operar drones navais multipropósito já é, hoje, uma ferramenta concreta para aumentar a presença marítima nacional, proteger a Amazônia Azul e fortalecer a soberania brasileira em mares estratégicos.
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