Grupo Iveco anuncia acordo para vender negócio de Defesa para Leonardo: Oportunidades e Riscos para o Exército Brasileiro


Em 30 de julho de 2025, o Iveco Group NV anunciou a venda de sua divisão de defesa, a Iveco Defence Vehicles (IDV), para a Leonardo SpA, gigante italiana dos setores aeroespacial e de defesa. A operação foi avaliada em cerca de €1,7 bilhão e faz parte de um desmembramento mais amplo do grupo, que inclui também a venda de sua divisão de caminhões comerciais para a indiana Tata Motors, totalizando aproximadamente €5,5 bilhões em transações. A venda da IDV deverá ser concluída até março de 2026, após o cumprimento de requisitos regulatórios.

Essa reorganização estratégica tem implicações importantes para os clientes da IDV, incluindo o Exército Brasileiro (EB), que mantém há mais de uma década uma parceria relevante com a empresa no desenvolvimento e produção do VBTP-MR Guarani.

A Parceria entre a Iveco e o Exército Brasileiro

A relação entre a Iveco e o Exército Brasileiro foi consolidada a partir da década de 2010, no contexto do Programa Estratégico Guarani, concebido para substituir os antigos blindados Urutu e Cascavel. O projeto levou à construção de uma fábrica dedicada em Sete Lagoas (MG), inaugurada em 2013. Com altos índices de nacionalização (estimados em cerca de 60%), a unidade industrial passou a produzir o Guarani, um blindado 6×6 anfíbio, projetado em conjunto com o Centro de Tecnologia do Exército (CTEx).

Diversas unidades do EB já operam o Guarani, cuja produção segue em curso com entregas previstas até a próxima década. O veículo foi desenvolvido sob o compromisso de fomentar a Base Industrial de Defesa (BID) nacional, consolidando competências industriais e tecnológicas no Brasil.

Centauro II e a Cooperação Internacional

Outro ponto de destaque na cooperação entre o EB e a indústria italiana foi a aquisição do blindado Centauro II, produzido pelo consórcio CIO (formado por Leonardo e Iveco Defence Vehicles). O veículo 8×8, equipado com canhão de 120 mm, representa um salto na capacidade de combate antitanque do Exército.

As primeiras unidades começaram a ser entregues em 2023, e o contrato está em fase de implementação. Embora parte significativa da produção e dos testes iniciais ocorra na Itália, há expectativa de que a parceria proporcione oportunidades futuras de absorção de tecnologia e capacitação técnica para as Forças Armadas brasileiras.

A Venda da IDV e os Impactos Potenciais

A aquisição da IDV pela Leonardo SpA tem o potencial de fortalecer a posição da empresa no mercado global de defesa terrestre, ao integrar as capacidades de produção de blindados da Iveco com as tecnologias eletrônicas e de sistemas integrados da Leonardo. No entanto, a transição também levanta pontos de atenção para o Brasil:

1. Continuidade do Programa Guarani
A fábrica de Sete Lagoas permanece, até o momento, com operação normal. A Leonardo tem interesse em manter os contratos vigentes, o que sugere que o cronograma do Guarani deve ser mantido. Ainda assim, eventuais mudanças na estratégia industrial ou nos fornecedores poderão afetar custos e cronogramas, especialmente se houver substituição de insumos por componentes europeus.

2. Manutenção do Programa Centauro II
Com o consórcio CIO agora sob controle integral da Leonardo, é razoável supor a continuidade das entregas. Por outro lado, a centralização produtiva na Europa poderá limitar a transferência de tecnologia — uma diretriz importante da Estratégia Nacional de Defesa (END).

3. Implicações para a BIDS Brasileira
A política industrial por trás do Programa Guarani prioriza a nacionalização e a geração de empregos. A Leonardo poderá, caso mantenha os compromissos estratégicos da IDV, explorar parcerias locais com empresas brasileiras, expandindo sua presença na América Latina e promovendo a competitividade da BIDS. Há também potencial para a integração de tecnologias avançadas, como sistemas de comunicação e sensores, nos veículos blindados brasileiros.

4. Considerações Geopolíticas
A presença de um grande grupo europeu como a Leonardo no setor terrestre brasileiro amplia o acesso a tecnologias sensíveis. No entanto, também aumenta a dependência externa. Em tempos de tensões geopolíticas, o Brasil deve ponderar sobre a resiliência de suas cadeias de suprimento e a possibilidade de eventuais restrições por parte de fornecedores estrangeiros.

Em resumo…

A aquisição da Iveco Defence Vehicles pela Leonardo SpA representa uma mudança estrutural relevante no cenário internacional da indústria de defesa. Para o Brasil, esse movimento pode tanto reforçar os programas em curso quanto gerar algumas incertezas, caso os interesses da nova controladora não se alinhem à estratégia nacional.

O Exército Brasileiro por certo irá acompanhar de perto os desdobramentos desta transição e buscar mecanismos para garantir a continuidade dos programas Guarani e Centauro II, bem como a manutenção de uma BIDS robusta e autônoma. O momento também pode representar uma oportunidade para aprofundar as parcerias tecnológicas com a Leonardo, desde que sejam respeitados os objetivos estratégicos da política de defesa nacional.


Com informações de:



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