Na última semana, uma notícia publicada pela Reuters mostrou um movimento que deve servir de alerta para toda a Base Industrial de Defesa e Segurança (BIDS) brasileira: o Banco Europeu de Investimento (EIB) decidiu triplicar sua linha de financiamento para o setor de Defesa, passando de €1 bilhão para €3 bilhões, canalizando os recursos por meio de bancos parceiros regionais (Fonte: Reuters, 11/06/2025). O objetivo é atender Pequenas e Médias Empresas (PMEs) que integram cadeias de suprimentos militares, fortalecendo a autonomia estratégica da Europa num contexto geopolítico cada vez mais instável.
O detalhe mais importante é que o EIB, tradicionalmente restritivo para projetos militares, revisou seu marco normativo para permitir apoio direto a atividades de Defesa, reconhecendo que sem crédito dedicado, a BIDS europeia perde capacidade de resposta, inovação e competitividade. Assim, os europeus deixam claro que a Defesa não é apenas despesa, mas investimento industrial de alto impacto, capaz de gerar empregos qualificados, induzir tecnologia dual-use e garantir soberania.
E no Brasil?
No Brasil, surge a pergunta inevitável: é possível ter algo assim? Hoje, a resposta realista é não, ainda não temos um mecanismo específico equivalente. Bancos como o BNDES e a Finep têm linhas para inovação, exportação e desenvolvimento tecnológico, mas nenhuma delas é moldada exclusivamente para a BIDS ou estruturada para mitigar riscos de crédito típicos deste setor e que, regra geral, afastam o capital privado.
Instrumentos regionais como FOCEM, CAF ou FONPLATA, por sua vez, não têm mandato legal para financiar diretamente a produção de armas, munições ou sistemas militares — seu escopo é desenvolvimento social, infraestrutura, integração produtiva civil e inovação com uso predominantemente não-militar. Ainda que seja possível encaixar projetos dual-use, como parques tecnológicos ou centros de P&D, isso não supre a lacuna de uma linha dedicada à Defesa.
Assim, se o Brasil quiser de fato aprender com o exemplo europeu, precisa enfrentar um desafio institucional: criar instrumentos próprios, como um Fundo Setorial de Defesa, linhas específicas no BNDES ou até um banco de fomento especializado, capaz de fazer o que o EIB faz hoje — assumir parte do risco, atrair investidores privados e garantir escala. Do contrário, a indústria nacional seguirá dependendo quase exclusivamente de contratos governamentais diretos, sem a rede de crédito estruturada que fortalece empresas europeias no momento em que mais precisam se modernizar.
A recente decisão do EIB é um recado claro: segurança nacional é, cada vez mais, segurança financeira e tecnológica. E quem não tiver instrumentos de financiamento robustos, cedo ou tarde, se tornará dependente de quem tem.
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