Como se sabe, a militarização do espaço é um assunto controverso e levanta muitas questões éticas e de segurança. Mas, até por isso, tem que ser discutido com objetividade e seriedade.

É bem verdade que, atualmente, o espaço ainda é um domínio não militarizado, porém muito devido à existência de tratados internacionais como o Tratado do Espaço Exterior, que proíbe a colocação de armas de destruição em massa no espaço, por exemplo. Por certo, não fosse tal circunstância, já estaríamos assistindo a uma corrida armamentista espacial e os conflitos armados já estariam ocorrendo nesse novo domínio.

Todavia, a realidade dos fatos nos mostra que, apesar das críticas e preocupações honestas que todos temos, há vantagens estratégicas significativas em se ter uma Força Espacial, as quais não podem ser desconsideradas e que têm levado as nações mais desenvolvidas a se inserir nessa nova dimensão.

Conceitualmente, uma Força Espacial opera e mantém uma variedade de equipamentos e sistemas que são vitais para a segurança e comunicação de um país. Isso pode incluir a operação de satélites civis e militares, sistemas de GPS, sistemas de vigilância e reconhecimento, bem como a defesa contra ameaças à infraestrutura espacial de uma nação.

Não por acaso, países como China, Estados Unidos, Canadá, França, Índia, Itália, Reino Unido e Rússia, entre outras, já inseriram esta dimensão no escopo de suas Forças Armadas, seja de forma separada, seja inserida em suas Forças Aéreas, ou, ainda, em formato conjunto ou multinacional.

Desta feita, com esse espírito de abrir uma provocação à discussão, apresentamos, a seguir, aquelas que têm sido consideradas as principais vantagens estratégicas advindas da criação de uma Força Espacial, sem prejuízo, claro, de outras que podem ser acrescentadas. Se não, vejamos:

1. Dominância da Informação: Satélites podem fornecer informações em tempo real sobre os movimentos e posições das forças inimigas, permitindo uma coordenação mais eficaz das operações no terreno. Além disso, eles podem ser usados para interceptar as comunicações inimigas e realizar espionagem eletrônica;

2. Capacidade de Ataque e Defesa: A capacidade de lançar ataques ou defesas de plataformas espaciais pode oferecer vantagens estratégicas significativas. Por exemplo, sistemas de armas baseados no espaço podem potencialmente destruir alvos em qualquer lugar do mundo a curto prazo. Além disso, a defesa antimísseis baseada no espaço pode ser usada para interceptar mísseis balísticos inimigos;

3. Comunicação: Satélites de comunicação são vitais para a operação eficaz das forças militares modernas, permitindo a comunicação rápida e segura entre diferentes unidades e comandos em todo o mundo. A interrupção dessas comunicações pode deixar as forças inimigas efetivamente “cegas” e “surdas”;

4. Navegação e Posicionamento: Sistemas como o GPS são fundamentais para muitas operações militares modernas, fornecendo localização precisa e navegação para tudo, desde soldados individuais até mísseis de precisão. Dominar este espaço pode permitir a interrupção das capacidades de navegação do inimigo;

5. Desestabilização do Inimigo: A mera presença de uma Força Espacial pode ter um efeito psicológico desestabilizador no inimigo. A ameaça de ataques vindos do espaço – ou a incapacidade de efetivamente retaliar contra forças baseadas no espaço – pode causar hesitação e incerteza, prejudicando a moral e a eficácia das forças inimigas;

6. Detecção Antecipada: Satélites de vigilância podem oferecer a capacidade de detectar ameaças iminentes, como lançamentos de mísseis, com antecedência. Isso pode fornecer tempo valioso para defesas de mísseis se prepararem ou para forças serem movidas para locais seguros;

7. Suporte à Inteligência: Além de monitorar as forças inimigas, os satélites podem ser usados para coletar uma ampla variedade de dados de inteligência, incluindo a avaliação de capacidades inimigas, a identificação de infraestruturas críticas, a monitoração de padrões de vida e muito mais. Essas informações podem ser inestimáveis para o planejamento estratégico;

8. Negar Acesso ao Espaço: Com uma presença militar no espaço, um país poderia potencialmente negar o acesso ao espaço para outros países, seja destruindo ou incapacitando seus satélites, seja interferindo com seus lançamentos. Isso poderia ter um efeito debilitante na capacidade de um inimigo de conduzir operações militares;

9. Reconhecimento de Longo Alcance: A capacidade de realizar vigilância e reconhecimento de longo alcance é outra vantagem potencial de uma força espacial. Satélites poderiam fornecer imagens detalhadas e atualizadas de locais em todo o mundo, permitindo o planejamento de operações com um alto grau de precisão;

10. Maior Resiliência: Ter uma diversidade de ativos, incluindo aqueles no espaço, pode tornar as forças militares mais resistentes a ataques. Se uma parte da infraestrutura de um país é atacada ou destruída, ter capacidades redundantes no espaço pode permitir a continuação das operações;

11. Implicações Estratégicas a Longo Prazo: Ter uma presença militar no espaço pode ter implicações estratégicas a longo prazo, dando a um país uma vantagem na exploração e no uso potencial dos recursos espaciais. Isso pode incluir a exploração de minerais na Lua ou em asteroides, que podem ter aplicações militares e civis;

12. Interferência e Guerra Eletrônica: As capacidades espaciais podem ser usadas para interferir nas comunicações e operações inimigas. Isso pode incluir o bloqueio de sinais de satélites, a interrupção de redes de comunicação ou a interferência em sistemas de computador;

13. Resposta Rápida Global: A presença no espaço pode permitir uma resposta militar global mais rápida. Isto é, a capacidade de projetar poder militar em qualquer lugar do mundo em um curto espaço de tempo;

14. Camada Extra de Dissuasão: A capacidade de empregar força a partir do espaço pode atuar como um dissuasor adicional contra a agressão, complementando os dissuasores terrestres, aéreos e marítimos; e

15. Cooperação Internacional: Uma força espacial pode proporcionar oportunidades para cooperação internacional, por exemplo, através do compartilhamento de recursos de vigilância e de defesa. Isso poderia fortalecer as alianças e aumentar a segurança coletiva;

Lembremo-nos, no entanto, que essas são vantagens potenciais. A viabilidade e eficácia de uma Força Espacial dependerão de uma série de fatores, incluindo a tecnologia disponível, o investimento financeiro, a estratégia nacional de defesa, a coordenação internacional, entre outros tantos.

Do impulso socioeconômico de uma Força Espacial

Outro ponto a se considerar é que a criação de uma Força Espacial poderia ter implicações interessantes para uma variedade de setores na indústria de defesa e além dela, especialmente por conta do alto valor agregado que geralmente envolve os bens e serviços de defesa.

Vejamos alguns setores que provavelmente seriam beneficiados (ou incrementados) com essa nova Força Armada sendo eventualmente implementada:

1. Indústria Aeroespacial: Este é o setor que mais diretamente se beneficiaria da criação de uma Força Espacial. Empresas que fabricam satélites, foguetes, e outros equipamentos e tecnologias espaciais veriam provavelmente um aumento na demanda;
2. Indústria de Defesa: Empresas que produzem sistemas de armas, veículos aéreos não tripulados, e outras tecnologias militares poderiam ver uma expansão dos negócios à medida que a Força Espacial procura desenvolver novas capacidades;
3. Comunicações e Tecnologia da Informação: A Força Espacial dependeria fortemente de tecnologias avançadas de comunicação e informação. Isso poderia impulsionar o crescimento em setores como software, hardware, criptografia e tecnologia de rede;
4. Inteligência e Análise de Dados: A capacidade de coletar e analisar grandes quantidades de dados será crucial para a Força Espacial. Empresas especializadas em inteligência, vigilância, e reconhecimento (ISR), bem como aquelas que fornecem análise de dados e inteligência artificial, poderiam se beneficiar;
5. Energia e Recursos Naturais: Com a possibilidade de mineração de asteroides e a exploração de outros recursos espaciais, empresas do setor de energia e recursos naturais poderiam ver novas oportunidades;
6. Logística e Transporte: A Força Espacial exigiria uma logística robusta e capacidades de transporte, beneficiando empresas que fornecem esses serviços;
7. Educação e Treinamento: A necessidade de pessoal altamente qualificado para a Força Espacial poderia impulsionar a demanda por programas de treinamento e educação especializados, beneficiando instituições educacionais e empresas de treinamento;
8. Consultoria de Defesa e Segurança: Consultores especializados em questões de defesa e segurança seriam necessários para ajudar a orientar o desenvolvimento e a implementação da Força Espacial;
9. Pesquisa e Desenvolvimento: A criação de uma Força Espacial provavelmente impulsionaria o investimento em pesquisa e desenvolvimento, à medida que se busca desenvolver novas tecnologias e capacidades; e
10. Setor de Seguros: À medida que as atividades espaciais aumentam, também aumentará a necessidade de seguros para cobrir os riscos associados.

Por fim, mas não menos importante, é crucial entendermos que esse novo tipo de Força Armada tem custos elevadíssimos, seja pela dimensão em que opera, seja pelas tecnologias que requer, ou seja, ainda, pelo elevado grau de treinamento exigido de seus operadores nos diversos níveis.

Trata-se, efetivamente, de uma abordagem que requer um amadurecimento técnico e estratégico difíceis de encontrar na maioria dos países, mas que, definitivamente, precisa ser perseguida, sob pena de lutarmos as guerras do futuro apenas com “arcos e flechas”.