Criptoativos, Blockchain, Segurança e Defesa Nacionais: entenda suas relações, potencialidades e riscos

Os criptoativos, e mais especificamente a tecnologia blockchain subjacente a muitos deles, têm o potencial de transformar significativamente as áreas de defesa e segurança nacional. Essa transformação pode ocorrer por meio de várias aplicações, incluindo a melhoria das cadeias de suprimentos de defesa, aprimorando a gestão de dados em larga escala e até mesmo abordando preocupações com o financiamento do terrorismo.

Um dos usos mais promissores do blockchain na área de defesa está no gerenciamento da cadeia de suprimentos. O blockchain pode melhorar a rastreabilidade e a verificabilidade dos componentes e montagens usados nos sistemas de defesa, ajudando a evitar a entrada de componentes falsificados. Por exemplo, o governo dos EUA proíbe que seus contratados usem certos fornecedores para evitar a infiltração de componentes falsos. A tecnologia blockchain poderia permitir que essas empresas e o governo rastreassem e verificassem o caminho dos componentes dos contratados, reduzindo o risco de falsificações.

Além disso, a blockchain tem aplicações promissoras para a gestão de dados, tanto dentro quanto fora do governo. A Estratégia de Dados Federais dos EUA, lançada em 2019, exige que as agências adotem padrões de gestão de dados que tornariam seus dados internos mais acessíveis e utilizáveis em todo o governo dos EUA até 2030. A integração do blockchain nas agências federais permitiria um compartilhamento de dados mais seguro e contínuo. Essa tecnologia também poderia transformar a gestão de dados em setores como a saúde, que lidam com grandes volumes de dados sensíveis.

Em termos de segurança nacional, a adoção crescente de criptomoedas traz tanto riscos quanto benefícios. Por um lado, as criptomoedas são frequentemente associadas ao financiamento do terrorismo e ao crime, e espera-se que essa prevalência aumente com o tempo à medida que a adoção em geral aumenta e a tecnologia facilita o acesso. No entanto, algumas criptomoedas, como o Bitcoin, oferecem vantagens em termos de rastreabilidade em relação às moedas fiduciárias, permitindo a desanonimização dos usuários. Isso poderia ajudar as agências de inteligência a rastrear o financiamento do terrorismo mais efetivamente.

Embora as criptomoedas e a blockchain ofereçam muitas vantagens potenciais, também existem riscos significativos a serem considerados. A natureza sem fronteiras das criptomoedas pode tornar difícil para os governos regulamentar e controlar seu uso. Além disso, embora algumas criptomoedas possam ser rastreáveis, outras, como Zcash e Monero, são projetadas para reduzir a rastreabilidade do usuário, o que poderia facilitar atividades ilícitas.

Outro risco está relacionado à segurança dos dados em si. Embora a blockchain seja geralmente considerada segura, nenhum sistema é completamente imune a ataques. Se os dados sensíveis do governo forem comprometidos, as consequências podem ser muito sérias.

O registro de ataques baseados em blockchain ilustra alguns desses riscos. Esses ataques podem ser externos ou internos e usam táticas comuns, como phishing, engenharia social, ataque a dados em trânsito ou direcionamento de erros de codificação. Além disso, novas táticas de exploração estão emergindo específicas para as redes blockchain. Por exemplo, os ataques de 51% ocorrem quando a maioria de uma rede conspira contra uma minoria de participantes. O cryptojacking é quando os computadores são sequestrados por seu poder computacional para minerar criptomoedas. Os ataques de flash loan ocorrem quando contratos inteligentes projetados para suportar empréstimos flash são atacados para desviar ativos. Rug pulls são quando insiders criam hype sobre um projeto apenas para abandoná-lo e fugir com os fundos dos investidores.

Vulnerabilidades humanas básicas também foram exploradas em ataques recentes à blockchain. Por exemplo, chaves criptográficas roubadas foram provavelmente a causa da violação de US$ 73 milhões na exchange de cripto Bitfinex em 2016. Vulnerabilidades nos pontos finais, como no nível do dispositivo, aplicativo, carteira ou fornecedor terceirizado, também são pontos de entrada para atores mal-intencionados. A incompetência do desenvolvedor, mesmo sem intenção maliciosa, é outro risco.

Também é importante lembrar que existem variações na arquitetura do blockchain, e diferentes estruturas e componentes introduzem fragilidades de segurança. Por exemplo, blockchains privados e públicos diferem em quem pode participar na rede e na verificação. Diferentes configurações de rede empregam diferentes componentes, que carregam diferentes riscos de segurança. Conforme os componentes, algoritmos e usos para a blockchain continuam a evoluir, também o farão as táticas de ataque e as técnicas de mitigação de ameaças.

É importante salientar que, na prática, a adoção de criptoativos e a tecnologia blockchain podem ter implicações significativas para a soberania nacional. Como as criptomoedas não são emitidas por um banco central ou uma entidade governamental, elas têm o potencial de contornar os controles e sanções econômicas tradicionais. Isso pode oferecer uma forma para países ou entidades subverterem as medidas econômicas impostas por outros países ou organizações internacionais. Por outro lado, pode permitir que países que enfrentam sanções ou instabilidade financeira tenham uma alternativa viável para a moeda convencional.

Além disso, a natureza descentralizada e global da blockchain e dos criptoativos pode criar desafios para a aplicação da lei e a segurança nacional. A capacidade de realizar transações financeiras transfronteiriças sem a necessidade de intermediários pode facilitar atividades ilícitas, como o financiamento do terrorismo e o tráfico de drogas. No entanto, como mencionado anteriormente, algumas criptomoedas, como o Bitcoin, podem oferecer vantagens em termos de rastreabilidade sobre as moedas fiduciárias, permitindo a desanonimização dos usuários, enquanto outras, como Zcash e Monero, reduzem consideravelmente a rastreabilidade do usuário.

É importante também considerar o impacto ambiental do uso de criptoativos. A mineração de criptomoedas, especialmente o Bitcoin, é conhecida por consumir grandes quantidades de energia, o que levanta preocupações sobre a sustentabilidade dessas práticas a longo prazo. No entanto, vale ressaltar que existem esforços em curso para tornar a mineração de criptomoedas mais eficiente em termos energéticos e para explorar fontes de energia renovável.

De todo modo, em termos de segurança de dados, a blockchain oferece melhorias significativas em relação aos sistemas convencionais. A natureza distribuída da blockchain torna-a resiliente a muitos tipos de ataques cibernéticos. Além disso, uma vez que um registro é adicionado à blockchain, é praticamente impossível modificá-lo ou excluí-lo. Isso pode aumentar a confiança nos dados e reduzir a possibilidade de fraude.

Ainda assim, é necessário manter uma perspectiva equilibrada. Embora a blockchain e os criptoativos ofereçam muitas oportunidades, eles não são uma panaceia para todos os problemas. O sucesso de sua implementação dependerá de uma compreensão sólida das tecnologias, bem como de uma avaliação cuidadosa dos riscos e benefícios associados.

A regulação e a padronização podem desempenhar um papel significativo na melhoria da segurança e da inovação no espaço da blockchain. O mercado atual sofre de alta fragmentação, onde diferentes empresas, consórcios e produtos operam usando diferentes regras e protocolos. Isso significa que os desenvolvedores não podem aprender com os erros e vulnerabilidades dos outros. Além disso, um ambiente regulatório pouco claro pode desacelerar a adoção e permitir que os cibercriminosos prosperem.

Por fim, cabe observar que o uso de criptoativos e a tecnologia blockchain nas áreas de defesa e segurança nacional é uma área em evolução e, como tal, é repleta de incertezas. Ainda assim, a promessa que essas tecnologias oferecem é substancial. Como em qualquer inovação, a chave será encontrar um equilíbrio entre aproveitar as oportunidades e mitigar os riscos. Isso provavelmente exigirá uma combinação de pesquisa, desenvolvimento de habilidades, implementação de práticas de segurança robustas e criação de um ambiente regulatório adequado.


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